sábado, 17 de maio de 2014

Carta para Bia

Temo por teu peito rasgado que, vez aberto, é escravo desse Nada que consome, rapidamente, a tua chama.
Já foste menina doce, fronte aberta. Mas, o que sabe de ti o céu sem estrelas da cidade voraz? O que entendem de tuas lágrimas os homens sem rosto na tua memória?
Ah, Bia, doce Bia, leio nos teus olhos essa labuta, a vontade incessante de se sentir novamente viva. Entre postes e geladeiras, viraste sim, uma bela atriz, que esconde até de si a própria formosura.
Vai dizer que cessou teu verso? Que mesmo cansado, fechou pra sempre teu riso?
Pois te digo: há tanto sentido no que falas que acende alguma coisa dentro de mim. Não é o Nada, nem o Oco, tão pouco é encher de areia onde antes pulsava sangue.
É, muito antes, jogar água e abrir as janelas. Você sabe, flor bonita só cresce com CUIDADOS.
Sei bem que aí há mais de infante.
Ah, Bia, acordei pra te acordar e pra deixar minha criança brincar com a tua.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Anos Dourados

Minha cabeça lateja com lembranças de anos dourados.
De quando tardes de sol não eram feitas para quartos e salas de escritório.
Amizades eram eternas, casamento era para os fracos.

Nos sonhos, ainda lembro:
Dinheiro não era problema, os cigarros não acabavam e a vida durava para sempre.
Na estrada bifurcada, multiplicam-se os caminhos;
mesmo lado a lado, somente de linhas paralelas se fazem nossos passos.

Há tempos...um mês ou uma vida? - não sei ao certo- estar sozinho era algo coletivo e ficar junto era sentido até na solidão.
Todos os medos refletidos ou criados da mesma projeção.
Ágora de promessas e sonhos;
Agora, carro, cartão, fim do mês, preguiça.

Nesse meio termo, entre a saudade e a raiva,
Tenho a desagradável certeza:
Nada é para sempre, e os tempos que achei dourados
Eram a sépia de uma fotografia velha.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tratado ao Tempo

Hoje firmei trato com o tempo, que há tanto tentave-me e sondava meu pensar.
Dou-lhe meus anos, minhas forças; deixo cada lembrança lentamente flutuar, leviana, a se aninhar em seu eterno peito.
Em troca, ganho o sábio saber de não saber nada, sobre coisa alguma, refletido nas alvas linhas de meus cabelos e densas linhas em minha face.

Deixo à vida a vida que tive, que leve, leve vento do tempo, os laços e promessas, esqueça em mim os amores e as palavras, e deixo ser o que for do Ser em mim.

Se é de pensar tão cedo, se é pra ceder tão veloz e impune, troque comigo de lugar.
Perca tudo, tendo tirado tanto tempo, que eu ganho em perder as forças e tudo que em si houver.
Assim, leve e livre, vivendo ao contrário de envelhercer, vivo criança e creio o mundo diferente, longe de onde morri; perfeito, pronto para o meu nascer.



Marco Ferreira

sábado, 11 de dezembro de 2010

Dadaísmo

Da lama e do caos construí minha crença.
Vindo do mais escuro véu, da Pedra do Gênesi à Relatividade do caminho, como um cego que passa a enxergar os céus e as cores, fiz meu interno milagre.
Seria algo mais ilusório que achar-me a par do mundo?

Mundo meu, de lama e Relatividade.
Milagre.
Da pedra minha fiz o caos e o Gênesi.
Passa o ilusório que contruí, cego, a enxergar o obscuro véu interno.
Crença? Cores!
Achar-me a par...vindo dos céus...caminho.
Como seria? Mais?
Mas...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Selo Sunshine Award

O blog Goiabada com Tijolo concedeu  ao Horizonte Alternativo o

Selo Sunshine Awards


Este Selo é uma iniciativa para aumentar a interatividade entre pequenos blogueiros =)


Há algumas regras para aceitá-lo:

– Colocar o logo no seu blog ou no seu post.

– Passar o prêmio para outros 12 bloggers.

– Incluir o link dos indicados no post.

– Informar aos indicados sobre o prêmio, deixando comentários em seus blogs.

– E, finalmente, compartilhar o link com as pessoas de quem você recebeu esse prêmio.



Agradeço ao meu amigo do Goiabada com Tijolo e indico o Selo Sunshine Awards a:

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Ataque.

Um belo dia, acordei sobressaltado. Ouvi na rua passos estranhos, dezenas deles. Ameaçadores e decididos, arrebentaram meu portão, destruíram a placa onde se lia "lar, doce lar".
Corri à sala, na esperança de não ser nada realmente sério.
Deparei-me com as estranhas figuras, seres de face disforme e olhos rapinos. Fixaram olhar em mim, medindo-me dos pés à cabeça, invadindo meus pensamentos, devorando meus sonhos. Pela primeira vez senti o medo subir-me a espinha e percebi que o calor deixava meu peito.
Tentei falar, tentei gritar. Qualquer reação, porém, era impossível. Minha voz cessara, a força para gritar me faltara.
Passo a passo aproximaram-se e seu toque sobre minha pele era como a de mil adagas congeladas perfurando não a pele, mas a alma. Como se aqueles seres sem forma definida tocassem na verdade minha vida toda. Paralisei-me.
Tijolo por tijolo, destruíram minha casa, quebraram os móveis.
Minha família sumira e a foto do tempo de criança que antes ficava sobre a mesa, perdera a cor e o sentido.
Não durou mais que um instante, como o telefonema que dá a má notícia ou a palavra que põem fim a um grande amor.

Por fim, deixaram minha casa. Uma casa grande de mais agora que estava sozinho.
A comida, inútil já que não tinha fome, estragara. A água, desnecessária já que a sede mudara, também secara.

Saindo pela porta, notei que o dia estava cinza. As rosas que plantei no jardim foram esmagadas e todos os sentidos se perderam.

Assim notei que o mundo havia saído do lugar, algo havia mudado, que tudo que um dia quis, de nada agora me adiantaria.
Num súbito espasmo notei que ainda havia uma coisa dentro de mim, a única que os seres não haviam mutilado.
Com o que sobrou fiz tudo o que podia. Sentei-me aonde ficavam as rosas, tomei em minhas mãos a foto amarelada, acendi um cigarro e chorei.



Marco Ferreira.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Mar profundo.

O Mar profundo, secreto, singular.
Reaviva, suga a alma,
Hora calma, hora confusão.

Nas ondas, suas sereias.
No seu canto, a ilusão.
Tão suave, refrescante pele.
Me repele, enquanto me domina.
Me absorve, enquanto me completa.

O gosto doce,o paradoxo no sal.
Quando tão perto, toca o cenho,
Quando longe, estigma,
Saudade, meu mal.

Vem e devora meus sonhos,
Faz do seu o meu destino,
Desliga meus sentidos.

Mar profundo o teu olhar.
Um segundo, um descuido,
Tão perdido sem desejo de voltar.