quinta-feira, 21 de julho de 2011

Anos Dourados

Minha cabeça lateja com lembranças de anos dourados.
De quando tardes de sol não eram feitas para quartos e salas de escritório.
Amizades eram eternas, casamento era para os fracos.

Nos sonhos, ainda lembro:
Dinheiro não era problema, os cigarros não acabavam e a vida durava para sempre.
Na estrada bifurcada, multiplicam-se os caminhos;
mesmo lado a lado, somente de linhas paralelas se fazem nossos passos.

Há tempos...um mês ou uma vida? - não sei ao certo- estar sozinho era algo coletivo e ficar junto era sentido até na solidão.
Todos os medos refletidos ou criados da mesma projeção.
Ágora de promessas e sonhos;
Agora, carro, cartão, fim do mês, preguiça.

Nesse meio termo, entre a saudade e a raiva,
Tenho a desagradável certeza:
Nada é para sempre, e os tempos que achei dourados
Eram a sépia de uma fotografia velha.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tratado ao Tempo

Hoje firmei trato com o tempo, que há tanto tentave-me e sondava meu pensar.
Dou-lhe meus anos, minhas forças; deixo cada lembrança lentamente flutuar, leviana, a se aninhar em seu eterno peito.
Em troca, ganho o sábio saber de não saber nada, sobre coisa alguma, refletido nas alvas linhas de meus cabelos e densas linhas em minha face.

Deixo à vida a vida que tive, que leve, leve vento do tempo, os laços e promessas, esqueça em mim os amores e as palavras, e deixo ser o que for do Ser em mim.

Se é de pensar tão cedo, se é pra ceder tão veloz e impune, troque comigo de lugar.
Perca tudo, tendo tirado tanto tempo, que eu ganho em perder as forças e tudo que em si houver.
Assim, leve e livre, vivendo ao contrário de envelhercer, vivo criança e creio o mundo diferente, longe de onde morri; perfeito, pronto para o meu nascer.



Marco Ferreira