terça-feira, 27 de abril de 2010

O Ataque.

Um belo dia, acordei sobressaltado. Ouvi na rua passos estranhos, dezenas deles. Ameaçadores e decididos, arrebentaram meu portão, destruíram a placa onde se lia "lar, doce lar".
Corri à sala, na esperança de não ser nada realmente sério.
Deparei-me com as estranhas figuras, seres de face disforme e olhos rapinos. Fixaram olhar em mim, medindo-me dos pés à cabeça, invadindo meus pensamentos, devorando meus sonhos. Pela primeira vez senti o medo subir-me a espinha e percebi que o calor deixava meu peito.
Tentei falar, tentei gritar. Qualquer reação, porém, era impossível. Minha voz cessara, a força para gritar me faltara.
Passo a passo aproximaram-se e seu toque sobre minha pele era como a de mil adagas congeladas perfurando não a pele, mas a alma. Como se aqueles seres sem forma definida tocassem na verdade minha vida toda. Paralisei-me.
Tijolo por tijolo, destruíram minha casa, quebraram os móveis.
Minha família sumira e a foto do tempo de criança que antes ficava sobre a mesa, perdera a cor e o sentido.
Não durou mais que um instante, como o telefonema que dá a má notícia ou a palavra que põem fim a um grande amor.

Por fim, deixaram minha casa. Uma casa grande de mais agora que estava sozinho.
A comida, inútil já que não tinha fome, estragara. A água, desnecessária já que a sede mudara, também secara.

Saindo pela porta, notei que o dia estava cinza. As rosas que plantei no jardim foram esmagadas e todos os sentidos se perderam.

Assim notei que o mundo havia saído do lugar, algo havia mudado, que tudo que um dia quis, de nada agora me adiantaria.
Num súbito espasmo notei que ainda havia uma coisa dentro de mim, a única que os seres não haviam mutilado.
Com o que sobrou fiz tudo o que podia. Sentei-me aonde ficavam as rosas, tomei em minhas mãos a foto amarelada, acendi um cigarro e chorei.



Marco Ferreira.

2 comentários:

Karla Alabarce disse...

adorei a prosa, de vdd. :)

Anônimo disse...

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