sábado, 4 de abril de 2009

Em Cima da Árvore nº 1

Minha alma é como um pássaro
Enjaulada, enclausurada, é presa dentro desta carne,
Caixa de dores e medos que a impede de voar.
Suas asas são minhas idéias e meus pensamentos são seus olhos,
Seu olhar, vagueante, longínqüo, perdido no horizonte.

Qual o canto que me pertence?
Qual ar há de preencher meus pulmões de vida? - pergunta-me a alma.
Lugar nenhum há de me ter e todo o tempo do mundo é o tempo que agora tenho.
Meço a vida em rajadas de vento e aposto minhas fichas em tempo, cada segundo vale tudo o que tenho e não vale nada.
Sou o mesmo neste instante, sei que sempre serei o que for meu momento, até quando ele passar.

Cansado da jaula, da casa aonde adimiram-no, o pássaro que é minh'alma chora,
Canta a melancolia de jamais ser livre.
Quer fugir? Talvez queira somente sentir-se bem, à vontade com sua própria existência.

Procuro alçar voô, mas as grades machucam-me as penas e a pena que se sente é a pena paga por ser de outra cor. Penas coloridas em um mundo de daltônicos.
A falta de entendimento, o medo do estranho os envolvem e os fazem podar quem se queira ser.

As idéias, o pensamento perdido entre as visões de uma realidade surreal o afastam do equilíbrio, do normal.

Quando escapa da jaula, vôa em direção às nuvens, ao infinito.
E quando o ar lhe falta, desce, cai ao solo e de novo é aprisionado dentro de si.

A jaula é meu corpo.
Longe dele sou feliz, mesmo que por instantes, mais feliz que qualquer outro pássaro desta paisagem saturada e triste.

Marco Ferreira